quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A LEITURA DA NOITE


Pássaros com dentes passeiam-se nas línguas pretas, que são estradas sinuosas e perigosas, ao mesmo tempo que as janelas e as varandas sonham com devaneios. No céu, o manto preto está furado por resmas de olhos brancos. Parece que a assembleia dos deuses está reunida. Junto à Praça dos Montes, dois bêbados abraçam-se amigavelmente e dois mistérios dormem ao pé da estátua. A crise, esse flagelo do capitalismo, já abateu mais corpos. Arrepio-me, não gosto de ver o cemitério a encher-se, e fujo. Quando me aproximo da câmara, as luzes apagam-se e a escuridão agarra-se aos objectos como se fossem caneladas do diabo. Abro a porta e saio da noite.

2 comentários:

  1. OI SILVIO!
    QUE GRANDE, PODER ABRIR A PORTA E SAIR DA NOITE, QUANDO ESTAMOS TENDO UM PESADELO OU VIVENDO ALGO RUIM, SERIA UMA BOA PEDIDA.
    ADOREI ESTE TEXTO,POETAS SÃO UMA FONTE DE SURPRESAS INESGOTÁVEIS...
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com/

    ResponderEliminar