sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

SUGESTÃO


O espaço da Judiaria Pequena, em Lisboa, em parte já não existe, devido à destruição provocada pelo terramoto de 1755. Mesmo assim, sendo Alfama um bairro de origem medieval, dos que menos sofreu com o terramoto, algumas das ruas referidas na obra são ainda identificáveis.

Berequias Zarco vivia na Rua de São Pedro (na Judiaria Pequena, em Alfama), numa casa que fazia esquina com a Rua da Sinagoga (que não identifiquei, talvez já não exista, ou terá mudado de nome...). No entanto, descobri que na Rua da Judiaria ficava a antiga Sinagoga. Seria a mesma rua?

O que surpreende nesta obra é que, embora imparável de acção, esta história não é ficção – trata-se de uma daquelas situações em que a realidade já é suficientemente alucinante... A história de Berequias está escrita, pelo próprio, num manuscrito encontrado numa velha cave em Constantinopla.

O Último Cabalista de Lisboa era o tio de Berequias, assassinado no dia em que se deu o massacre de milhares de judeus, junto à Igreja de São Domingos. A história desenvolve-se em torno da busca da verdade – quem assassinou Abraão Zarco? E, tão ou mais importante, existe mesmo um Deus que permita que tais horrores aconteçam?

Para Berequias, a morte do tio representa não só a perda de um familiar próximo e muito estimado, mas também o fim de uma fonte de sabedoria inestimável – a cabala, escola filosófica judaica, que na época constituía um importante veículo de instrução. Apercebemo-nos ao longo da leitura que a população judaica de Lisboa era mais instruída do que a população cristã, em que poucos saberiam ler.

Em busca da verdade, na qual se baseia a sabedoria da cabala, consubstanciada na figura do tio, Abraão Zarco, Berequias percorre a cidade de lés a lés, por ruas que hoje já não existem, como as ruas da Judiaria Grande, onde agora está a Baixa, e por outras que ainda conseguimos reconhecer. Vemos os Olivais e Marvila com as suas quintas, Belém e o seu grande Mosteiro em construção, o Bairro Alto e as suas casas nobres, passamos através de portas da cerca fernandina, vamos ao Rossio e ao Largo de São Domingos, ao Limoeiro e à Sé. Assistimos a cenas de terror descritas com uma sensibilidade extraordinária.

O Miradouro de Santa Luzia dá-nos a perspectiva necessária para compreender e abarcar o espaço, mas depois é necessário embrenhar-nos nas ruas e vielas, e com um pouco de imaginação podemos sentir o medo de andar por ali e ser apanhado. Experimentem também os degraus da Igreja de Santo Estêvão, ou então o Largo do Chafariz de Dentro. Como no tempo de Berequias, ali ainda são todos vizinhos.

5 comentários:

  1. A Era Medieval é fantástica :) Adoro tudo o que está ligado a essa época :)

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  2. a antiga e aristocrata alfama foi árabe, a medieval resulta da herança recebida e que apropria, mas a deste extraordinário pedaço de história esquecida tem já ventos de tempos modernos... conhecedores de novos mundos e velhos juízos!

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  3. é verdade. uma atmosfera verdadeira. parabéns ;)

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  4. devo à conjunção de um impulso e de uma certa inaptidão informática o anonimato do comentário :$ o impulso inquietou a lucidez, ao perceber classicismos de entusiasmos pouco precisos, alimento de velhos e novos juízos. A inaptidão não me afligue tanto. :-)

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  5. lolol. olá, patrícia...obrigado pelo teus comentários eloquentes ;)

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