terça-feira, 8 de novembro de 2011

ROSTO IMUNDO


“Ó Glória, Glória, Glória, não sabes como tenho a alma!”, “Como é que a tens?”, “Tenho-a enlouquecida por ti”, “Por mim?”, “Sim, por ti. Porque a tua geometria é simplesmente uma ponta da perfeição”, “Vai-te catar”, “Nunca pensei adormecer nos teus braços; nunca pensei respirar os teus cheiros”, “Foge do sonho”, “Nunca pensei arder em tanto fogo!”, “Parece-me cada cromo!”, “Ó Glória, Glória, Glória, atira a chave do teu coração”, “Nem penses”, entretanto, o telemóvel do rapaz começa a gritar, “Atende. Não suporto esse toque”, o empregado das lágrimas agarra no rectângulo e cospe: “Tou, carago. Quem é? Ah?”, o silêncio sem rosto prende a voz do rapaz. Porém, pouco depois, ele levanta-se e coloca a mão esquerda na testa, “Tens a certeza? Absoluta? Mas…e…A sério? Não acredito! Viva, carago…”subitamente, a alvorada atira o telemóvel para o fim da rua, “Estou rico, carago, estou rico! Ganhei o euromilhões!”, “A sério, amor? A sério?”, mas o sol foge do rosto imundo.

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