quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A PÁGINA


Os nervos fazem baloiçar o prédio. Acho que o terramoto do Japão não seria capaz de enviar tanto medo aos incautos, que se escondem nas roupas e nas sombras, “Nãooooo. Não quero ver-te. Desaparece”, limpo a sonolência e coloco os ouvidos coscuvilheiros no tecto, enquanto seguro na ceroula, “Desaparece, mentiroso. Como é que fui capaz de me casar contigo? Como? Como?”, “A mentira serviu para te libertar da chatice”, “Se eu sabia o que sei hoje, aquele rapaz não me escapava. É certo que era feio, mas tinha um coração de ouro”, “Aquele marceneiro? Bah, és mesmo totó. Tens um médico, mas pensas na merda! Olha, menina, ele não tem dinheiro para pagar cafés às madames!”, “E? E? Só pensas na tua profissão e no teu dinheiro. A vida é muito mais do que isso. Sabias?”, subitamente, o silêncio agarra-se ao betão. Pouso o corpo no sobrado e coço a cabeça desgrenhada, “Adeus mentiroso”, o último grito surge. De seguida, com uma rapidez desvairada, ouve-se passos. Ao fundo, pouco depois, a porta fecha a página.

Sem comentários:

Enviar um comentário