quarta-feira, 24 de agosto de 2011

APOLOGIA DAS TELENOVELAS

A noite empurra o dia, como se o criminoso empurrasse o incauto. Mas no bar do Tone, que é a garganta que nos acompanha nos arrotos e nas bebedeiras, não há magias semelhantes, “Ó Zé, desculpa a demora. O caralho do gato mijou-me as calças e...”, “Não faz mal, pá”, coloco a preguiça na antiguidade e penteio o cabelo com as mãos, “Estás com as trombas fodidas, meu! O que se passa?”, “Apetece-me dar umas lambadas na minha mulher, meu. Ela parece uma tola! Foda-se, a sério, não percebo o fascínio dela pela merda das telenovelas. A tua gaja também tem a mesma paranóia?”, “Nem por isso”, iço o cansaço e peço uma mini gelada. Tenho a garganta seca, “Quando chega a hora de a caçadeira disparar disparates, ela aponta o comando para o rectângulo e liga a televisão. A partir daí o mundo deixa de existir. Ainda lhe atiro o isco para a salvar, mas ela sacode-o até o desfazer”, “Pois, tens que ter calma”, “Puta que pariu a minha sorte. Essa merda dói, meu. Dói muito. Nem te passa pela cabeça como me sinto mal com a situação”, ele dá um murro nas costas da mesa, da mesma forma que eu cabeceava as ideias dos meus inimigos, nos tempos em que as espinhas me furavam a cara...

(a convite do Paulo Kellerman, reescrevi a Apologia das Telenovelas. É certo que a base do texto está aqui, mas o meu cunho e a minha identidade estão patentes em cada palavra. Por isso o remix...dentro de semanas haverá novidades, no que respeita à publicação)

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