segunda-feira, 28 de março de 2011

Romance


Perto dos objectos minúsculos, o crepúsculo finda num adeus rápido, enquanto a noite nasce num breve respiro. A este gesto de camaleão, assisto com grandes sorrisos da varanda do meu apartamento, a três pisos de altura do pavimento asfáltico. E penso, com uma voz agarrada ao silêncio, que não há nada mais belo do que sentir ...a palpitação desta magia. Todavia, como o tempo não tem tempo, tudo acaba rapidamente sobre o negrume da minha tristeza, surgindo na manta da noite muitos pontinhos brancos, que apenas nos sonhos molhados os consigo ladear. A par, candeeiros presos nas fachadas dos prédios acendem os caminhos dos transeuntes, que me fazem lembrar os passeios da solidão. E por vê-la assim em liberdade, um agasalho nostálgico acaricia-me a memória. Como consequência, brota das minhas reentrâncias umas lágrimas saudosistas, como se fossem rios a caírem do sopé da montanha, enchendo de reminiscências o meu colo surpreendido. Porém, quando sinto o frio do desânimo a percorrer-me a coluna, relincho e abano as crinas húmidas até as secar, da mesma forma que o exorcista faz ao seu paciente. E assim que a saudade me desaparece da visão, vejo que a rua está sem movimento e vejo que a varanda está sem palavras.

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