terça-feira, 29 de março de 2011

Romance 1


Já com o sol sobre a nuca da cidade, acordo com a cara enterrada no pântano viscoso, que brota da minha boca entreaberta. Junto a ele, o meu companheiro suga-o descontraidamente, com a cauda a varrer a satisfação. Abano a cabeça, reprovando a atitude do malandro, e sopro-lhe uma indignação para o focinho. De olhitos a piscarem uma aflição, a bola de pêlo abana a cabeça com veemência, mas quando o vento lhe provoca incómodos, ele pula para o sobrado, “Este menino tem cada uma!”, atiro-lhe o enfado, ao mesmo tempo que estico anarquicamente o esqueleto preguiçoso, sob o olhar desdenhoso e mesquinho do meu companheiro, que rebola a ironia perto do rectângulo escuro. Pouco depois, este desequilíbrio desgrenhado cessa, com a mão direita a mergulhar nos líquidos pegajosos. Suspiro desconsolos, rugindo palavras incultas, enquanto um pequeno sorriso me faz umas caretas muito deselegantes, “Olha o tratante!”, e cuspo-lhe a almofada.

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