terça-feira, 1 de março de 2011

Peditório


Coloco os gemidos da garganta na banheira, enquanto repouso o cansaço sobre as peças sanitárias. Quase no mesmo instante, um vendaval de berros sacode a noite. Encarquilho a admiração e atiro-me para a janela, “Cala-te, rufia”, diz uma mulher para um miúdo demente, “Quero o carrinho, quero o carrinho”, “Já tens o quarto cheio de carrinhos”, “Quero o carrinho, quero o carrinho”, e o silêncio é apenas uma memória muito velha, “Cala-te”, insiste a incauta, “Caluda, quero descansar”, aparece subitamente uma voz, “Dá-lhe a merda do carro”, “Tem razão. É o que vou fazer”, “Amanhã será um carrão”, murmuro com suavidade, fechando a janela.

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