Durante o bulício do mastigar, o telefone atira-nos um estremecimento que nos causa susto. Deixo cair a colher por isso, que embate com violência no lombo assado, e pinto sobrolho com nervos. Mas antes que a minha língua dispare uns impropérios azedos, ela ergue a surpresa e estica o braço direito para agarrar o telefone, que dança sobre o sofá de pele, "Estou sim, quem fala?", e vejo-a a enrugar a cara, "Estás a falar a sério? Estás a falar a sério?", e vejo os sentimentos a escorrerem pelas montanhas, "Porra, que munfo!", e atira o telefone contra a triste parede, "O que foi?", "Morreu quem não devia ter morrido", e desmaia.
Sem comentários:
Enviar um comentário