segunda-feira, 14 de junho de 2010

Corpos com guerras


O dia adormece e a noite acorda, tudo em simultâneo, numa harmonia perfeita. Ao meu lado direito, dois tipos jantam uma chouriça muito castanha. Cheira bem. É pena já ter jantado uns grelhados junto ao rio. Caso contrário afinfava-lhe o dente, como uma cobra esfomeada.
Sorrio pela comparação desapropriada e desloco o olhar, pouco depois, para a praça dos sorrisos, que é ladeada pelo Mosteiro da Santa Clara. E nela vejo um casal unido por um dissabor azedo, de olhos a mastigarem futilidades muito taciturnas. Abano os meus nervos com a cabeça esbranquiçada e grito-lhes, “Usem as palavras, porra”, e ela, muito a seco, “Mas eu detesto-o”, “Mas eu amo-te”, e as estrelas desaparecem.

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