segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Domingo


Ao domingo, a cidade encolhe-se no aconchego do sossego. Pelo menos, de manhã. Porque de tarde, as portas das casas abrem-se e, de lá, saem os esfomeados pela liberdade, os acorrentados à máquina do trabalho. Que durante a semana os ocupam por largar horas, como se o inferno lhes sugasse o sorriso aos poucos. Mas o tempo chuvoso, por vezes, castra-os a anarquia planeada no calendário, que se mostra diariamente na mente de cada indivíduo. E o choro, em forma de rio enfurecido, surge-lhes de imediato nos olhos pisados, por uma dor que lateja nas pálpebras sem cessar.
A segunda-feira acorda-os, com um abanão furioso. Levantam-se, ainda ressacados pela mágoa, e atiram-se à vida, como se atirassem para um abismo fundo. E tudo continua.

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