quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Movimentos Cuidadosos


Levanto-me. E na verticalidade do gesto intencionado, percorro toda a extensão da sala até ao telefone escuro que toca, em cima da madeira esburacada pelo tempo. O ambiente está embrulhado numa escuridão tépida e amena. “Tou, quem fala?”, do outro lado indefinido, um barulho de tempestade fura o meu ouvido, como um martelo pneumático, mas, em menos de um segundo, uma voz troveja, “Então pá, é o Zé da Tina”, “Oh, grande amigo!”, “Olha, será que posso ir a tua casa? Preciso de falar contigo a sós. Sabes como é, estas estórias das escutas…” Sorrio pelo movimento cuidadoso do Zé. “Sim, claro que podes.”
Pouso o telefone e faço o movimento do caranguejo até me sentar na poltrona de veludo. Acendo um cigarro, numa calma exagerada. Fumo-o, com o olhar preso ao mar arrogante. E de repente uma ideia cuidadosa invade-me as pálpebras, “Será que colocaram algum microfone na roupa dele?”

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