terça-feira, 8 de setembro de 2009

A Gaguez


As palavras inacabadas surgem sempre quando me lembro ou quando palro com amigos da cidade que visitei não faz dias. É certo que a memória ainda contém as imagens límpidas como de um filme, e daí o encravamento do discurso, mas a sua enorme qualidade cultural, em todos os parâmetros associados, espalhada por todo o território, com princípios na idade média, antevê uma gaguez eterna.
Já estou a ver o futuro, parece que a televisão está ligada, as pessoas a baterem-me nas costas, a abanarem-me, ou, no caso extremo, a reanimarem-me a minha velhice, porque acham que estou a colocar as mãos no desconhecido cedo de mais, e os curiosos encostados ao acontecimento, de braços dados à especulação infinita, a vociferarem que sou louco e que fugi do hospício tal. E eu, com as bochechas encarnadas, quase a explodirem, a enraivecer por não me sair palavras de esclarecimento para toda aquela malta, ela sim, maluca.
Por fim, removida a espinha por artes mágicas, no meio do cansaço, digo que “o cheiro da arte imobiliza-me os sentidos que vos contacto” e da multidão paralisada surge uma voz enrouquecida, “estão a ver, ele é louco”.

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