quarta-feira, 30 de novembro de 2011

OURO

Sobre o promontório está uma frase: “Na arte do neolítico está a arte do ouro”, “Ouro? Ouro? Onde está o ouro?”, e a cidade busca a maravilha como se a vida não tivesse mais significado.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

PUBLICAÇÃO


Realizou-se, na Biblioteca Municipal de Gondomar, a 26 de Novembro, a sessão de apresentação do livro “Poemas de Amor e Sensualidade”, obra da autoria de Modesto Nogueira.
Editado pela “Lugar da Palavra”, o livro apresenta um conjunto de poemas de Modesto Nogueira – que apenas se “descobriu” poeta depois da aposentação. A apresentação esteve a cargo de Alzira Braga, marcando também presença na cerimónia, para além do autor, o Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Gondomar, e João Carlos Brito, responsável pela editora.
Modesto Nogueira nasceu em 1942, no Marco de Canaveses. Aos 16 anos decidiu finalizar, em regime nocturno, a 4.ª Classe. Talvez por isso, retomou a dedicação aos estudos. Concluiria o 7.º Ano e, depois, cursaria Filosofia. Depois do serviço militar retoma os estudos – como trabalhador-estudante finaliza a licenciatura em História (na Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Passou, como refere na sua biografia, de empregado de escritório para o ensino. Leccionou História. Já na Universidade Católica finaliza o Curso Superior de teologia. Segui o percurso docente até que, em 2003, se aposentou.
Desde então que se dedica à poesia. Tem três livros editados, tendo ainda textos seus em várias outras publicações. Mantém, com dedicação, o seu “cantinho da poesia” em www.modestonogueira.blogspot.com
Diz ser, em tudo na vida, uma pessoa exigente. Principalmente consigo mesmo... Actualmente, destaca, já se tornou “mais sereno e compreensivo”.

BEIJO

Por detrás do frio está um homem sensível, que procura um beijo nas pombas do céu.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

SIMPLES

O frio esmaga a cidade como se fosse o montro esmagasse as couves do vizinho.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

SUGESTÂO


O livro que tornou Paul Auster famoso em todo o mundo. Cidade de Vidro, Fantasmas e O Quarto Fechado à Chave, constituem os três andamentos de uma sinfonia única, neste que continua a ser, tantos anos depois, o livro mais emblemático do autor. São três fascinantes histórias de mistério, centradas no submundo de Nova Iorque, em que o leitor, tal como os personagens, se torna prisioneiro dos irresistíveis enredos, dos puzzles alucinantes, em que o autor é mestre incontestado.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

OUTRO MUNDO


Beijo os teus lábios e abraço o teu peito. Demoro horas a desprender-me da felicidade, porque os sorrisos são aves que não voltam a cobrir de ouro o mesmo felizardo, “Adeus”, molho a tua face e voo para outro mundo, onde o trabalho cobre os incautos até aos ossos.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

UPS!!!


Tenho vestido a saia dos nervos, porque os homens do gás pontapeiam o prédio como se fosse um inimigo. Levanto o nariz e atiro-me para a escuridão, “Dá-lhe com força”, “Tira-lhe as aranhas”, “Ela está a precisar”, encolho os olhos e aguço os ouvidos, “Com mais força”, “Não pares”, “Olha que jeitosa!”, visto-me e corro até à entrada, “Força, força, força”, alargo ao nervos e abro a porta, “Alto! Não lhe toquem, canalhas”, mas os homens do gás brincam com a bicicleta do vizinho, “Desculpem”, e fujo para as sombras.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

NO ADRO DOS ESTUDANTES


No adro dos estudantes, que é um espaço sem árvores, as vidas borrifam o ar com melodias desafinadas. Ao pé das capas pretas, um conjunto de garrafas vazias desenham a cara de uma mulher, “Ó meu amor, ó, meu amor, traz-me a tua chupeta. Lalalalala”, e a noite apodera-se das nuvens com uma vivacidade estonteante, “Lalalalala, ó meu amor, ó, meu amor, dá-me a tua boca”, na crista dos candeeiros, uma luz súbita inunda a escuridão, “Quero a tua boca, mulher. Não fujas”, pouco a pouco, as cabeças ébrias escondem o empedrado, enquanto os donos das varandas atiram mijo para os corvos.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

AULA


Coloco o cansaço na madeira e olho para a eloquência, que palra sobre a revisão da literatura. Pouco depois, o meu olhar rasga o presente e vejo as palavras a escrever a minha tese, “Tenham em atenção estes aspectos”, digo adeus à imagem que terei no futuro e sugo a voz da professora.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

SUGESTÃO


Trata-se de um romance em que o real e o fantástico se fundem numa unidade perfeita, sendo evidente também um incontornável compromisso com o mundo contemporâneo, apesar de o autor ter afirmado que "não tinha a intenção de fazer uma alegoria moral, nem muito menos política.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

SIMPLES

Nas pontas dos dedos temos vulcões incandescentes

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

DESILUSÂO


A última fronteira da desilusão encontra-se dentro da última palavra, que a boca mentirosa atira para as costas dos infelizes.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

ALMA


A tempestade atira raios à cidade, que se esconde sob as saias da cama. Eu não sou excepção e não tenho vergonha em tremer quando a natureza berra comigo. Não sou pessoa de mostrar o que não sou e nem faço danças irónicas para cativar os vivas da multidão. Talvez por isso, a minha alma esteja aos saltos com a perfeição.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

EUROPA


No fim de uma estrada velha está a Europa a urinar uma identidade desconexa. Parece que as línguas não encontram uma voz homogénea ou um espirro com a mesma doença. Mais vale poucos e bons do que muitos e maus.

domingo, 13 de novembro de 2011

SIMPLES

o mistério passa a porta e entre no compartimento. é um espaço exíguo, com um cheiro pestilento a barrar as paredes. entro e digo: "Quem está aqui?", "Sou eu", "Eu? Eu, quem?", "A tua luz", alargo os cantos da boca para fora e sinto o cheiro a flores a voar dentro da metamorfose.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

SUGESTÃO


O decadente sedutor Tommy Wilhelm chegou ao dia da verdade e está assustado. Aos quarenta anos, retém uma impetuosidade meio infantil, o que o levou à beira do caos: está separado da mulher e dos filhos, perdeu o emprego de vendedor, não se entende com o seu vaidoso e rico pai, a sua carreira em Hollywood foi um fracasso (um agente de Hollywood classificou-o como "o tipo que perde a rapariga") e a sua situação financeira é péssima. No decorrer de um dia decisivo, durante o qual passa em revista os seus erros passados e descontentamento espiritual, um impostor misterioso e filósofo oferece-lhe um momento glorioso de verdade e compreensão, além de uma última esperança. Saul Bellow foi o único escritor a vencer o National Book Award por três vezes, tendo sido galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1976.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

GUERRA


Abro as portas da noite e vejo o dia a sorrir para as mentes com ranho, que procuram os bichos da riqueza. Engordo o corpo revoltado e sopro um nervosismo para as árvores cabeludas. Mas os loucos pelas gordas juntam ansiedades e criam muros de betão, “Capitalismo”, e gritam como os jumentos tresloucados, “Pontapeiam-no”, digo-lhes com suavidade.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

ROSTO IMUNDO


“Ó Glória, Glória, Glória, não sabes como tenho a alma!”, “Como é que a tens?”, “Tenho-a enlouquecida por ti”, “Por mim?”, “Sim, por ti. Porque a tua geometria é simplesmente uma ponta da perfeição”, “Vai-te catar”, “Nunca pensei adormecer nos teus braços; nunca pensei respirar os teus cheiros”, “Foge do sonho”, “Nunca pensei arder em tanto fogo!”, “Parece-me cada cromo!”, “Ó Glória, Glória, Glória, atira a chave do teu coração”, “Nem penses”, entretanto, o telemóvel do rapaz começa a gritar, “Atende. Não suporto esse toque”, o empregado das lágrimas agarra no rectângulo e cospe: “Tou, carago. Quem é? Ah?”, o silêncio sem rosto prende a voz do rapaz. Porém, pouco depois, ele levanta-se e coloca a mão esquerda na testa, “Tens a certeza? Absoluta? Mas…e…A sério? Não acredito! Viva, carago…”subitamente, a alvorada atira o telemóvel para o fim da rua, “Estou rico, carago, estou rico! Ganhei o euromilhões!”, “A sério, amor? A sério?”, mas o sol foge do rosto imundo.

ÂMAGO DOS BICHOS


Os bichos com mãos são apenas seringas venenosas, que varrem as cidades adormecidas com intuito de cravar na raiz da excepção uma mordedura fatal.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CAIS


Junto ao cais, as mãos desconhecidas procuram lembranças nas tocas do mar. Mas do óleo nauseabundo, elas retiram apenas partículas do diabo, “Isto são masturbações dos barcos”, “E são também arrotos dos esgotos”, e os activistas berram as razões.

sábado, 5 de novembro de 2011

SIMPLES

Os bichos com mãos são apenas guitarras sem cordas.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

SUGESTÃO


Neste volume reúnem-se todos os livros de contos de Miguel Torga: Bichos (1940), Contos da Montanha (1941), Rua (1942), Novos Contos da Montanha (1944) e Pedras Lavradas (1951).

Temas como a vida em total comunhão com a natureza, com todas as alegrias e agruras que isso implica, histórias de animais e das gentes transmontanas, narrativas profundamente humanas e dramáticas que ilustram a luta do homem contra as leis que o aprisionam - divinas e terrestres.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

TEMPESTADE


As tempestades cravam fúrias nas terras
Onde o medo esconde o bolso vazio.
Mas as mãos com choro dizem adeus
A quem espreita o céu sem receio.

Pouco a pouco, as brumas das memórias
São verdades que varrem as ruas.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

MAR


“Lá vai o senhor doutor ver o seu jardim”, a voz da girafa, que é um homem palrador e sonhador, abraça o bojudo, “Depois da água do mar está o cabelo do mar. Essa relíquia natural mostra-me que existe sempre tempo para os sorrisos, mesmo que as navalhas do choro me despedaçam a vontade de viver”, “Como o compreendo! Como o compreendo!”, os dois homens apertam as mãos e atiram-se para os beijos.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

DENTRO DO MEDO


A única razão de viver, da minha simples voz, é o de conseguir escrever na perfeição. Será uma tarefa arriscada, porque a imperfeição suga as partículas do paraíso como se a ventosa do mal chupasse o sangue das minhas veias. Mas quem não tem coragem para saltar o medo, não consegue encontrar as portas da conquista.