sexta-feira, 14 de agosto de 2009

"As Palavras são Armas que nos Matam"


Tento fingir, mas bloqueio no primeiro movimento da mentira. Estranho-me, olho-me como se faltasse alguma coisa no corpo ou como se tivesse a olhar para um estranho, demasiado defeituoso para ser possível a sua existência, e pergunto-me “porque não consigo entrar na sala dos habituais cânones?”. Volto a tentar, mas a mesma barreira surge-me como resposta.
Hoje precisava de mentir e de não transparecer a minha verdade; hoje a minha voz deveria seguir os trilhos enviesados da precisão. Apenas hoje, apenas um dia, o suficiente para abrir o sucesso infinito.
Na reunião, à hora marcada, transformo o meu sentimento em palavras. E os indivíduos taciturnos, sentados defronte, ouvem-me com o despego visível. Continuo e finjo que não os percebo.
Por fim, deixo-me descair para a cadeira e arrumo os meus papéis. Estou vazio, não tenho mais nada a dizer.
Silêncio na sala, por entre as palavras proferidas pelos olhares dos indivíduos. Pouco depois, desfazem a algazarra e olham-me de olhos desfigurados. E nesse estado tresloucado enviam-me as seguintes palavras: “as palavras são armas que nos matam”.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Praça dos Desencantos


A praça está repleta de presenças humanas, estendidas pelos bancos envernizados há dias. Palram diabolicamente sobre nadas, sorrindo e gesticulando muito, como fantoches descosidos. Ao lado, os miúdos histéricos deambulam por entre loucuras.
Eu, taciturno, aprecio os movimentos que se desenrolam, sem palavras a correrem-me no silêncio dos pensamentos, fitando-os de alto a baixo.
De súbito, um casal de idade próxima da extinção aproxima-se, acorrentados ao ombro do outro. Trazem o luto vestido, provavelmente de um cordeiro amigo ou familiar, mas os rostos transparecem uma alegria tímida. Alguns passos mais param e arquejam pelo desgaste dos movimentos. Estão exaustos.
Todas as palavras continuam a vaguear na indiferença dos contextos alheios, continuam fechadas ao abraço do vizinho. E nem os apelos mudos dos olhares os movem para a vitória social. Levanto-me, aproximo-me e, junto deles, de braço dado, levo-os ao paraíso dos beijos.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sentimentos Imaculados


A verdade da nostalgia situa-se apenas no choro das reminiscências, inundadas de diversos sentimentos imaculados. Mas a sua presença apenas comanda o meu corpo quando alguém nos bate nas costas e nos dizem “olá” ou “olha ele”, com um sorriso estampado no rosto e de braços abertos para um abraço à memória. E com ela, uma ligeireza tristeza, pelas longínquas acções repletas de jovialidade, faz-me escorregar uma gota de sabor a adeus.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A noite


A noite absorve o crepúsculo junto do infinito, num ritual diário. E com a conquista do último bastião do dia, as trevas conquistam o trono do poder.
É neste ambiente anárquico dos transeuntes, onde a escuridão esconde os gestos punidos por cânones, que as palavras me despontam violentamente das mãos, com ideias fortificadas de genialidade. O único problema, e terrível, é a insuficiência do papel.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Silêncio


Sentado defronte da janela vejo a presença do sol a espraiar pela cidade adormecida nas férias. É um momento raro por estes dias, já que a presença das nuvens pardacentas têm sido uma constante. O que para esta época do ano é de estranhar. Ou talvez não, se associarmos o negrume aos movimentos do meu bolso, provavelmente ao teu, provavelmente extensivo aos vossos.
E a cidade, no meio das memórias e das sombras, brota lentamente um perfume de saudade. Onde está a vivacidade dos movimentos humanos?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O Discurso do Adeus


O silêncio das palavras está para breve. É um momento esperado – uma pressão que a suporto há meses. Não a deixei que me prejudicasse nos meus movimentos, pois tenho força de espírito para me libertar das algemas. Mas os seus resíduos estão ali, juntinhos ao meu peito, entranhados numa das válvulas do meu coração. Não os posso negar nem os confundir com outras partículas. Estão ali, a respirar o mesmo oxigénio que respiro. Os meus gestos, o meu percurso de sempre, alheios a eles. E o silêncio das palavras tão perto do meu abraço. Falta pouco, muito pouco, apenas uma semana para o adeus do quotidiano, uma semana para o voar das férias.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Palavras soltas por ideias nefastas



Mordo-me por causa dos pormenores indiscretos que apenas são visíveis pelos meus olhos alheios às palavas moribundas.

E aqui estou para não acabar devorado pela minha raiva.