segunda-feira, 26 de março de 2012

FAMÍLIA


Em volta da mesa, as cabeças fazem sombra para o tempo de pedra. A criança, que está no centro do rectângulo, olha para as nuvens com cabelos, “Pipipipi!”, “Cucucucu!”, “Cácácácá!”, “Riririri!”, do céu, os trovões são cuspidos como os tiros. Os olhos, pequenos, frágeis, amedrontam-se. Mas o silêncio embarga-lhe e voz, “Pipipipi!”, “Cucucucu!”, “Cácácácá!”, “Riririri!”, de súbito, no quintal, os pássaros metralham o silêncio. É uma música eloquente. Abandono o púlpito e vou até à janela. Sobre as pedras, localizadas no fim da propriedade, os pinchas acasalam e picam nos concorrentes. Parece que os mouros andam por ali. Tiro os cotovelos da madeira, pois o cansaço aleija-me a carne, “Pipipipi!”, “Cucucucu!”, “Cácácácá!”, “Riririri!”, na cozinha, a penumbra crava-se nos rostos dos adultos. Da mesa, porém, sai uma luz que incendeia as palavras que dançam no espaço.

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