sexta-feira, 9 de julho de 2010

Já não se projectam cidades com silêncio


Quando o calor arrasa com a paciência, o Portuga rasga os acessórios que tapam o pudor, com a brutalidade de “porra pró tempo”. Isto é, quando ele está bem disposto, porque caso não esteja, o rol todo do dicionário vernacular é vomitado em três tempos, pelos beiços a espumarem.
E como nos últimos tempos o diabo passeia no nosso país, as pipas de cerveja e de febras lançam novas sombras para a noite, acompanhadas pelos relatos esmiuçados das contratações das equipas de futebol e dos gritos das mulheres avolumadas nas formosuras da gordura, que embirram nas diferenças de futuros sobre uma novela. O que me obriga a colocar algodão na minha desatenção, como se colocasse uma barragem a segurar nas ideias. Mas no fim de algum tempo, não muito, o incómodo do dique torna-se insuportável nos meus ouvidos. Chateio-me, dou um pontapé na mesa e rosno, “Já não se projectam cidades com silêncio”.

Sem comentários:

Enviar um comentário